• 5 novembro

    Fortalecendo a Relação com Seus Filhos por Meio da Empatia

    Atendi, por décadas, crianças em meu consultório, vivenciando de perto as complexidades e os desafios do desenvolvimento infantil. Embora hoje meu trabalho esteja direcionado ao autoconhecimento e empoderamento feminino, não atuando mais diretamente com a psicologia infantil, esse tema ainda me toca profundamente.
    Observar pais e mães que, muitas vezes sem perceber, se relacionam com seus filhos de forma rígida e inflexível desperta em mim o desejo de compartilhar reflexões que possam ajudar a transformar esses relacionamentos em vínculos mais saudáveis e empáticos.

    Você já parou para observar como seu filho reage diante de regras e rotinas que não foram explicadas ou negociadas?

    Será que impor horários rígidos e forçar a obediência a todo custo está realmente ensinando respeito ou criando medo? Como seria, então, uma disciplina que combina estrutura e afeto, acolhendo as necessidades emocionais da criança?

    Essas perguntas são um convite para refletirmos sobre práticas de criação que muitos de nós aprendemos, mas que podem ser revisitadas para promover um desenvolvimento mais saudável e fortalecer o vínculo com nossos filhos.

    Hoje, ainda vemos muitos pais que mantêm uma abordagem rígida e inflexível na criação de seus filhos, acreditando que disciplina é sinônimo de obediência absoluta e conformidade. Há quem insista que as crianças devem comer sempre no mesmo horário e o que é servido, sem qualquer espaço para as preferências ou necessidades específicas dos pequenos. Mesmo que a criança proteste, recuse o alimento ou demonstre claramente desconforto, alguns pais veem o cumprimento da regra como essencial, ignorando o choro e o mal-estar infantil até que, vencida pela exaustão, a criança adormeça. Muitos ainda acreditam que, agindo assim, estão ensinando “respeito e disciplina,” mas, na verdade, essa prática frequentemente gera sentimentos de frustração, medo e angústia.

    Outro exemplo é quando os pais decidem interromper uma atividade, como uma brincadeira ou um momento de televisão, sem qualquer aviso ou explicação. A criança, envolvida em sua atividade e sem uma compreensão clara de tempo e transições abruptas, é forçada a parar imediatamente, mesmo entre protestos e lágrimas. Esse comportamento é frequentemente visto como “birra” ou “teimosia” e, sem acolhimento, a criança é compelida a obedecer, sob a justificativa de que isso a ensina a “respeitar os limites impostos.”

    Há ainda a questão do sono: muitos pais estabelecem horários rígidos, sem considerar o ritmo natural de cada criança. Quando decidem que é hora de dormir, a criança deve estar pronta, com ou sem sono. Sem flexibilidade, esses pequenos ficam sozinhos no escuro, enfrentando o ambiente desconfortável, muitas vezes com ansiedade ou medo, até finalmente dormirem de exaustão.

    Essas práticas, baseadas na ideia de que “criança não tem querer,” ignoram necessidades emocionais e psicológicas essenciais para o desenvolvimento infantil. Essa abordagem, por mais que pareça disciplinadora, desconsidera que o aprendizado e o amadurecimento infantil requerem a compreensão e o acolhimento das emoções. Forçar a obediência sem nenhuma margem para negociação ou empatia pode ensinar submissão, e não respeito; medo, e não confiança. Crescendo em um ambiente assim, muitas crianças acabam desenvolvendo uma relação conflituosa entre seus próprios desejos e a necessidade de agradar, carregando para a vida adulta a ideia de que suas necessidades emocionais são menos importantes que a obediência.

    No campo da psicologia infantil, esses métodos vêm sendo questionados e reformulados, pois hoje se sabe que crianças precisam não só de limites, mas de compreensão, empatia e abertura ao diálogo. Criar um ambiente onde a criança possa expressar-se e ter algumas de suas escolhas respeitadas – ainda que com limites quando necessário – contribui para o desenvolvimento de indivíduos mais seguros, empáticos e autônomos.

    Finalizo deixando uma mensagem de reflexão para pais, mães e cuidadores que buscam construir relações mais conscientes e respeitosas com as crianças. Parar para avaliar nossas atitudes, especialmente aquelas que herdamos sem questionar, é um passo essencial no caminho evolutivo. Pequenas mudanças na forma como nos relacionamos com os filhos podem transformar profundamente o ambiente familiar e ajudar a construir um futuro mais acolhedor e humano para todos.

    Afinal, em um mundo que muitas vezes é hostil, é em casa, nos primeiros vínculos de afeto e confiança, que as crianças encontram o alicerce para enfrentá-lo com segurança, empatia e autoconfiança.

    Que nossas escolhas hoje sejam sementes de um amanhã melhor.

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